Rodrigo C. Vargas
A I Grande Guerra resultou numa Europa cheia de cadáveres, ruínas e costurada por convulsões radicais como a revolução russa, o nascimento do fascismo e a crise geral das economias liberais. A fragilidade exposta do Velho Continente – colonizador, catequizador e regulador - permitiu aos países dependentes até aquele momento estruturar um projeto autonomista de forte caráter nacional-estadista como o peronismo na Argentina e o Estado Novo brasileiro de Getúlio Vargas.
O varguismo no Brasil buscava uma identidade nacional consciente de valores coletivos e para isso contava com a insegurança e instabilidade externa que ajudavam na aceleração dos sentimentos e sua transformação em paixão. A emergência simbólica do nós, desfazia o eu em busca da construção da identidade e identificação do outro. Esse apontamento era o princípio de uma estratégia bem sucedida.
No livro Getúlio para crianças, o presidente era descrito como alguém que reconstruía o país. Em qualquer dos textos, não importando para quem estivesse se dirigindo, Getúlio tinha os traços de sua personalidade de líder evidenciados. Vários livros traziam essas mensagens, como O Brasil é bom que tratava de incentivar o sensação de pertencimento a uma terra grandiosa e farta, orgulho de seus filhos, reforçando o sentimento de agregação e de identidade pela associação do Brasil com a família. O “pai dos pobres” era mais uma faceta bem construída por Getúlio, sob a condição de esconder uma base popular vista como objeto sem autonomia, e uma sociedade marcada por representações de passividade e receptividade, ou seja, tudo o que um líder carismático precisa.
O Estado Novo e sua propaganda formaram um novo espírito brasileiro impregnado de informação mobilizada nos limites daquele Estado, necessitado de um plano para manter sua extensão territorial baseado não na exploração de suas características reais, mas ilusórias.
A forma de lidar com a competitividade é a prova da esterilização das massas resultante desse processo. Essa ação deixou de ser produto da elevação do homem diante de sua comunidade e sua evolução natural para preencher possíveis espaços vazios, sob uma importância inútil do ponto de vista pedagógico. Para o brasileiro não adianta competir, só a vitória importa. O primeiro lugar no podium é sublime e dispensa os outros colocados. A natureza dessa ação segue uma regra básica: a não regra. Para seguí-la, basta não questionar o vencedor. Não é necessário saber como chegou lá, o caminho percorrido ou se houve merecimento. Tudo parte de uma força maior que impulsiona e dita: é preciso vencer a qualquer custo. O Eco desse desejo está em todos. O Legislativo, Executivo e Judiciário acompanham esse movimento, e para perceber seus atores basta compreender a história dos líderes de cada um desses poderes.
Somos um país de megalomaníacos. Os dois templos da paixão nacional evocam isso: o Morumbi - que até bem pouco tempo era o maior estádio de futebol particular do mundo e o Maracanã - que também perdeu o posto de maior estádio de futebol público do mundo. E o que dizer da Amazônia, do carnaval, da mulher brasileira, da Copa do Mundo, do pré-sal? Referências contraditórias de um país desconstruído por coronéis, onde a educação política ameaça as costuras frágeis e de vidas curtas de gerações beneficiadas por esse tipo de relação afetiva, e de mistura entre o público e o privado. Migalhas que fazem do povo seres gigantes em ambientes doceis. Viva Getúlio! Viva o Brasil esquizofrênico de Lula! Um país que para grande parte dos brasileiros, se Deus é um deles de fato, esqueceu onde nasceu.
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