sábado, 26 de setembro de 2009

Se espremer sai sangue

Rodrigo C. Vargas

O gênero policialesco não é novo e existe muito antes da televisão. A espetacularização da violência ganhou forma ainda mais explícita com a imagem em movimento alimentando uma falsa idéia de verdade crua. No Ceará, quem esquece do personagem “Mão Branca”? Criminalizar a miséria passou a ser grande piada na terra dos humoristas. Os grupos de comunicação descobriram uma forma de entreter, manipular e eleger seus representantes nas várias esferas politicas.

O poder gerado por esse movimento foi capaz de fazer ignorar ordem do Supremo, e em 2007, o pedido do recém-empossado secretário da Segurança Pública e Defesa Social Roberto Monteiro para que cumprissem a lei.

Somente agora, em 2009 é que o Estado resolveu dar um basta na chacota que virou o procedimento policial, exonerando três delegados. Parte da mídia logo tomou partido e juntamente com o legislativo do tipo “privado” buscaram perverter a ação do secretário numa estratégia para fazer confundir.

Um apartheid legal

A decadência material da polícia civil (greve) versus o aparato midiático do ronda no quarteirão não pode sombrear o abuso diário patrocinado pelos meios de comunicação. Pedir para deixar à vontade do preso aparecer na televisão é imoral e criminoso. Imoral num país onde não há acesso à educação de qualidade e portanto grande parte (receptores passivos) apenas tateia a informação ao invés poder entender, analisar, criticar, debater ou até mesmo ser capaz de propor sobre o que vê. E criminoso pelo simples fato de não respeitar a constituição brasileira.

Se isso não vale para os programas "se espremer sai sangue” (como eram chamados os jornais do começo do século passado que estampavam cadáveres e os rostos dos presos nas páginas policiais), podemos então considerar que vivemos a apartheid e que a lei funciona de acordo com a classe social e criminosa do bandido. Nesse caso não são as respostas que poderiam jogar luz às dúvidas, e sim as perguntas: Se a criminalidade caísse vertiginosamente, o que fariam os apresentadores desses programas e os que defendem a sua existência? Com que promessa concorreriam aos mandatos? Com que plataforma política?

Estado de alerta

O telejornalismo é um ambiente claramente manipulado. Muitas vezes de forma inconsciente pelo repórter ou editor. Acontece na feitura da matéria. Durante a montagem somos afetados por tudo aquilo que ajudou a formar nosso caráter. São as técnicas ensinadas nas escolas de comunicação que permitem minimizar as falhas. Um bom exemplo aconteceu semana passada. Um homem negro e pobre tomou como refém uma mulher branca, empresária de classe média. O criminoso tinha uma granada na mão, e segundo o atirador de elite que fez o disparo que atingiu a sua cabeça, foi o motivador do tiro. No dia seguinte o franco-atirador foi parte de uma matéria em que visitava a família da mulher salva, tratado como herói. Se pudessemos trocar os atores de lugar e ao invés do homem de cor preta e favelado, a empresária estivesse segurando a granada, e em seguida fosse morta. Como a imprensa noticiaria o fato? O policial continuaria sendo herói? O método seria reavaliado?

É por esse ou outros acontecimentos que o cuidado com o que é publicado e/ou televisionado como notícia deve ser tomado. Programas policiais podem ser encarados por quem tem pouco formação critica como o real. É por isso que a necessidade de um conselho federal é cada vez mais urgente. Não para censurar mas para acabar com a censura que existe.

6 comentários:

Unknown disse...

As pessoas, a mídia, o interesse, está na falta, nas falhas, nos desvios: de caráter, de conduta, de escolhas... Para todos eles é inadmissível que falhemos, erremos ou até mesmo não sejamos a expectativas do olho dos observadores “abutres” a procura de algo ruim para espelhar a sua vida desinteressante. O espetáculo se dá a medida da subjetividade de cada um, com seu empenho sórdido de especular a desgraça, a tristeza, a privacidade alheia. Possuídos por um sentimento perverso alimentado pelo circo de horrores que é a espetacularização dos sentidos.

Tarcísio Filho disse...

Muito bom Rodrigo, otima analise, merece sim um lugar no observatorio. abs

Chutando o Balde disse...

Claro q td q foi dito é verdade... Podemos pensar( e ter certeza) q se fosse um homem rico ou de classe média aquele tiro ñ dairia do rifle policial... Mas fazer o q?? deixar ele matar a mulher?? A ação foi correta, o q precisamos analisar é pq aquele homem estava com aquela granada.Podemos até tentar-mos entender o motivo q o levou aquela situação, mas não podemos por isso deixar de agir! O errado é q no Brasil acontece apenas ações policiais, o Estado se resume a isso, ñ iveste em educação e infra- estrutura para q novos fatos como este ñ aconteçam... Sobre os delegados, achei muito ruim pra sociedade as exonerações, pois estes são ou foram uns dos melhores delegados do Ceará, e kem perde com essas exonerações? Nós, cidadãos de bem. E quem ganha? Os bandido, q teram menos aida pra se preocupar. Dessa forma vamos acabar ainda mais nas mãos de bandidos, ladrões, estupradores... Mas ai vem os DH, q muitas vezes tratam bandidos como coitados e Vítimas como NADA, pois para os DH ñ importa o crime e sim, ñ mostrar o bandido, PEGO EM FLAGRANTE DELITO. Mas ngm mostra contra a vontade, se ele quiser tampa os rostos! Já q havia insatisfação por parte do secretário ou outras pessoas, que conversar-se com os delegados antes de tomar uma atitude que paara mim é horrível!!

Vertebral disse...

Para "Chutando o Balde": Você está certíssimo, vivemos um estado policial. É preciso muito para pensar em ser um país democrático, mas sou otimista, estamos muito melhor do que estivemos em toda a nossa história. O que não podemos confundir é a verdade por trás da ação tomada pelo Secretário. Quando alguém é preso, passa então a ser responsabilidade do Estado, zelar pelos direitos daquele indivíduo. Que ele tenha a punição correta se for culpado, e posto em liberdade se for inocente. Delegados e os outros agentes da policia devem estar lá para garantir isso, e não para serem os primeiros a deturpar o sentido de justiça. Assegurar q o preso só dê entrevista mediante a presença do advogado é nobre pq defende aquelas centenas de pessoas q foram presas injustamente, e tiveram suas vidas desgraçadas pela tv. Entenda, depois q vc aparece na telinha, nada irá mudar a impressão deixada pela primeira imagem divulgada. Ninguém quer livrar de punição assassinos, estupradores, seuqestradores, enfim, criminosos. Os direitos preservados pelo Secretário são para proteger os homens de bem. N se deixe levar pelos programas policiais e os discursos feitos pelos exploradores da ignorância e miséria. Obrigado por escrever. Boa sorte

zé valdir disse...

Olá, vertebral,um abraço!
Parabéns pela análise quanto à ação do secretrário de segurança do estado, apenas fazendo cumprir a lei, quanto à exibição dos que são presos pela polícia.
Lamento, vertebral, a postura, a meu ver, totalmente equivocada, dos pseudos "esclarecidos", que se deixam envolver pelos argumentos tacanhos dos que se servem da exploração da imagem dos que caem nas garras da polícia, para proveito próprio, se beneficiando da fatia de um mercado ávido por este tipo de "representante", que na verdade em nada os representa!
Quem quiser saciar seu mórbido desejo de ver o rosto de que está preso pela polícia, acesse o "site" da secretaria da justiça do ceará, e nele econtrará dezenas de fotos de presos que, já jlugados, transitados em julgados, estão sendo caçados pela justiça, para que paguem, como manda a sentença de cada um, os seus crimes!
Parabéns, vertebral, continue assim, neste espaço e no seu programa da TV UNIÃO! Vá em frente!

Chutando o Balde disse...

Vertebral: Eu ñ vim aki defender q mostrem sem pudor os que estão na guarda protetora da polícia, eu ñ me deixo levar por essa mídia manipuladora do Brasil, adoraria que entrasse alguem como Chávez no brasil, mas vejo isso ainda distante diante do tamanho de manipulados q encontramos em todas as partes e q vemos(e para mim é uma enorme tristeza) quando saem os nomes dos "nossos" representantes...Enquanto o Brasil ñ deixar de ter a mentalidade de um inseto, que comemora como algo extraordinário a Copa do Mundo e Olimpíadas, que serve apenas para mostrar como o povo é analfabeto político, nunca iremos para frente... Deviam comparar na Mídia, a saúde, a educação, o transporte público e a segurança das outras cidades com o Rio, não que as Olimpiadas ñ traram avanços, mas não é necessário isso para se investir!!! Temos q nos mobilizar e tentar conscientizar o maior número de pessoas, ñ me achando o dono da verdade, apenas querendo q as pessoas pensem...