terça-feira, 23 de setembro de 2008

Gostaria que estivesse aqui


Zezé Medeiros
Filósofo e vocalista da banda Caco de Vidro (Cover do Pink Floyd)

Breath, breath in the air, don’t be afraid to care…
De repente embarco numa nave transdimencional, quem sabe, onde sons e imagens se confundem num túnel de quase morte, sei lá! Um homem morreu em sua casa na cinzenta Londres, em 15 de setembro de 2008, Wright estava com 65 anos e sofria de câncer. Deixou o registro de seus dedos (seriam dedos?!?) para humanidade como legado.

You gonna go far, you never gonna die…
Londrino, estudante de Arquitetura foi na escola que conheceu Roger Waters e Nick Mason, logo montando uma banda com a entrada do guitarrista Syd Barrett. Wright sempre contribuía com composições com umas duas ou três músicas por álbum, além de colaborar nos magníficos arranjos onde podemos citar: "Echoes" (do album Meddle), "Time" (do Dark Side of the Moon) ou em Wish You Were Here, onde seus teclados estão onipresentes, claramente visivel em "Shine on you crazy diamond", onde a guitarra de David Gilmour soma-se aos teclados em um amplexo de pura viagem.
Com o processo de domínio iniciado em Animals por Roger Waters e o sucesso a afetar as relações pessoais dentro do grupo, culminou com o seu afastamento na gravação do album The Wall, apesar de mais tarde participar dos shows.

Aprentemente é um coadjuvante, mas o certo é que Richard Wright foi elemento fundamental para a construção do som do Pink Floyd. De seus teclados reproduziam-se sons que iam desde pingos d’água, passando por ventos e tempestades até helicópteros, máquinas e sons do que ainda vamos criar. Richard Wright ainda compôs os álbuns solos: Wet Dream em 1978, Identity – com o codinome Zee - em 1984 e por fim Broken China em 1996, onde mostra toda sua maturidade como músico em composições e arranjos maginíficos.

Relax, I do believe it’s working good...
Foi Baudelaire quem sugeriu no século XIX: “embriagai-vos, de vinho poesia ou virtude, a vossa escolha”, mas o poeta ainda não conhecia os teclado de Wright, senão ele teria acrescentado “som” nessa opção inebriante. Careta que sempre fui, Pink Floyd foi a embriagues sem álcool ou THC que me projetou. Meus ouvidos adolescentes ao captar aqueles sons, sofreram tal impacto que até hoje ecoam no auge de minha meia-idade. Sons que romperam a barreira do fisiológico ao fundirem-se a tal ponto que os tímpanos viraram retina.

Lembro ainda hoje da viajem que foi quando fechei os olhos e ouvi o Umma Gumma pela primeira vez. Também do estado lisérgico que me deixou a vagar na praça do Ferreira, saindo do Cine são Luiz após ver “The Wall”.

Wright morreu sim, pois a evolução necessita desse sacrifício. No entanto procuramos registrar nossas marcas neste mundo, na crença de que a imortalidade da obra nos envolva num processo de continuidade. Assim não lamentarei, nem rolara uma lágrima sequer dos meus olhos, like black hole in the sky... Pois sei que o som daquele homem vai brilhar nos ouvidos dos meus netos, assim como já brilha no dos meus filhos.

Shine on your crazy diamond…

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