sexta-feira, 12 de junho de 2009

Cadáver Insepulto

(Marcel Duchamp)

Rodrigo C. Vargas

"Agir é descrer. Pensar é errar. Só sentir é crença e verdade. Nada existe fora das nossas sensações. Por isso agir é trair o nosso pensamento. " (Fernando Pessoa)

A rotina obriga a pensar sobre muito. A densidade dessa ação depende apenas da profundidade do ser pensador frente ao abismo da repetição. É angustiante saber que boa parte do que escapa as mãos jamais será tocada. Os restos, é preferível apostar toda vontade de potência.

É muito difícil lutar contra o velho-novo (aquilo que já aconteceu e ainda assim provoca surpresa), pois sua natureza é local, íntima. O que deve levar ao confronto é a necessidade de manter o sentido exemplar das coisas, nas coisas justas que orientam e foi passado de geração em geração, contrariando a contemporaneidade onde tradição significa atraso.

Tradição não é algo parado no tempo, impedido de metamorfar-se. Nem sempre é algo mantido por convenção constituído pelo poder. Esse tipo é multiplicado pela manutenção de uma identidade baseada no continuísmo, como na pratica do preenchimento de vagas sob a orientação da lógica hereditária, ausente de critica ou critério.

"Em certos os casos. Quanto mais nobre o gênio, menos nobre o destino. Um pequeno gênio ganha fama, um grande gênio ganha descrédito, um gênio ainda maior ganha desespero; um deus ganha crucificação. A maldição do gênio não é, como pensava Vigny, ser adorado mas não amado; é não ser amado nem adorado. Wilde nunca foi tão confirmadamente um gênio como quando o homem na plataforma da estação ferroviária cuspiu no seu rosto, ao ser ele agrilhoado. Um grande dano tem sido causado a muitos gênios: não lhes cuspiram na cara." (Fernando Pessoa - O destino do gênio)

O novo não tem etiqueta nem cor. Não tem rosto nem sobrenome. Não tem letra nem número. Não é imagem nem som. Sua localização está no ato de encarar o eterno retorno do mesmo para mudar suas bases, e fazer dele um mesmo diferente. Perceber isso, é entender que o familiar nem sempre é o conhecido. É agir sempre que invocado por menor que o motivador dessa agonia aparenta ser, pois esse dimensionamento raso certamente irá condensar-se em algo desproporcional aos conhecimentos reunidos até então; fazendo do agir um garfo para a sopa. A saída é não medir. Pois o tempo para a maioria parece ter encurtado e o relógio deixou de ser necessário no pulso. É o tempo plasmado no presente causando a incompreensão das coisas, a falta de sentido.

A reorganização desse sentido passa unicamente pelo agir. O mundo é uma escada sem degraus e tudo o que existe sobre seu campo, as relações sociais, a formação intelactual, os fatos e não fatos, o caos e a morte são condições obvias dessa fundação, capaz de ser deformada na ação legítima do confronto.

Aí está o motivo para continuar. Mesmo entendendo que no máximo dez agirão. Eu acredito na utopia. A cada três passos em sua direção, a utopia afasta-se outros três. Saí do lugar.

Um comentário:

Leandro disse...

Olá, gostei muito do seu blog. Adicionei seu link no meu blog. Se puder, faça uma visita: http://ensaiosababelados.blogspot.com/

Um abraço

Leandro