Rodrigo C. Vargas
Na última quarta-feira em Recife, uma menina de apenas 9 anos interrompeu a gravidez de gêmeos. O fato choca não apenas por se tratar de uma criança que engravidou mas por quem a teria engravidado. O pai das crianças seria o padrasto que também teria estuprado a irmã mais velha da menina, de 14 anos. O crime só veio à tona depois que a criança começou a reclamar de dores. Já na unidade de saúde da cidade de Alagoinha, interior de Pernambuco, os médicos diagnosticaram a gravidez e a classificou como uma gestação de alto risco, pela idade e por ser de gêmeos. Só então a mãe da menina decidiu pelo aborto.
A repercussão foi ainda maior pela reação da Igreja Católica. O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, anunciou publicamente a excomunhão da mãe e da equipe médica envolvida no procedimento. Sobre o padrasto acusado de estupro, o arcebispo disse que não cabe excomunhão e ainda tratou de julgar o que segundo ele seria pior: "Esse padrasto cometeu um pecado gravíssimo. Agora, mais grave do que isso, sabe o que é? O aborto, eliminar uma vida inocente." O chefe do departamento do Conselho Pontifício para a Família, do Vaticano, Gianfranco Grieco disse que a decisão de Dom Cardoso foi correta.
É difícil entender a posição da Igreja em casos como esse. Apesar de respeitar por se tratar de um princípio não posso deixar de destacar aqui a sensação que tenho de sustentação inquisitória permanente. Será que a Igreja não reparou que aquela mãe já está condenada a um drama familiar? Será que o arcebispo ou o Vaticano não fazem idéia de como essa família será recebida na cidade onde moram (quem vive no interior do nordeste sabe bem o que quero dizer)? Outra fator interessante é a posição da Igreja quando o assunto é a preservação da vida. Se no caso brasileiro a igreja decidiu por excomungar os médicos e a mãe da menina estuprada, por que não tomou a mesma atitude com o pai que entrou com o pedido na justiça italiana e o juíz que autorizou a suspensão da alimentação de Eluana Englaro, de 37 anos, que vivia em coma irreversível há 17?
O que aconteceu no interior de Pernambuco merece uma atenção maior, inclusive da Igreja que não pode se omitir quando é a instituição que mais somou para a formação do espírito da sociedade brasileira. O assunto não pode ser tratado por motivação ideologica, ou muito menos por ordem de fé. Qual seria o futuro dessa garota mesmo sem essa perseguição eclesiástica? Por decisão do Ministério Público a criança não vai voltar para a cidade onde nasceu, a 230 km da capital. Ela permanecerá no Recife sob proteção. De acordo com a polícia, a menina sofria violência sexual desde os 6 anos.
O Presidente Lula comentou que como cristão e como católico lamentava profundamente o conservadorismo de um bispo da Igreja Católica (o pronunciamento do presidente foi antes do posicionamento público de membros do Vaticano a favor da excomunhão). E que nesse caso a medicina estaria mais correta que a Igreja.
Na última quarta-feira em Recife, uma menina de apenas 9 anos interrompeu a gravidez de gêmeos. O fato choca não apenas por se tratar de uma criança que engravidou mas por quem a teria engravidado. O pai das crianças seria o padrasto que também teria estuprado a irmã mais velha da menina, de 14 anos. O crime só veio à tona depois que a criança começou a reclamar de dores. Já na unidade de saúde da cidade de Alagoinha, interior de Pernambuco, os médicos diagnosticaram a gravidez e a classificou como uma gestação de alto risco, pela idade e por ser de gêmeos. Só então a mãe da menina decidiu pelo aborto.
A repercussão foi ainda maior pela reação da Igreja Católica. O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, anunciou publicamente a excomunhão da mãe e da equipe médica envolvida no procedimento. Sobre o padrasto acusado de estupro, o arcebispo disse que não cabe excomunhão e ainda tratou de julgar o que segundo ele seria pior: "Esse padrasto cometeu um pecado gravíssimo. Agora, mais grave do que isso, sabe o que é? O aborto, eliminar uma vida inocente." O chefe do departamento do Conselho Pontifício para a Família, do Vaticano, Gianfranco Grieco disse que a decisão de Dom Cardoso foi correta.
É difícil entender a posição da Igreja em casos como esse. Apesar de respeitar por se tratar de um princípio não posso deixar de destacar aqui a sensação que tenho de sustentação inquisitória permanente. Será que a Igreja não reparou que aquela mãe já está condenada a um drama familiar? Será que o arcebispo ou o Vaticano não fazem idéia de como essa família será recebida na cidade onde moram (quem vive no interior do nordeste sabe bem o que quero dizer)? Outra fator interessante é a posição da Igreja quando o assunto é a preservação da vida. Se no caso brasileiro a igreja decidiu por excomungar os médicos e a mãe da menina estuprada, por que não tomou a mesma atitude com o pai que entrou com o pedido na justiça italiana e o juíz que autorizou a suspensão da alimentação de Eluana Englaro, de 37 anos, que vivia em coma irreversível há 17?
O que aconteceu no interior de Pernambuco merece uma atenção maior, inclusive da Igreja que não pode se omitir quando é a instituição que mais somou para a formação do espírito da sociedade brasileira. O assunto não pode ser tratado por motivação ideologica, ou muito menos por ordem de fé. Qual seria o futuro dessa garota mesmo sem essa perseguição eclesiástica? Por decisão do Ministério Público a criança não vai voltar para a cidade onde nasceu, a 230 km da capital. Ela permanecerá no Recife sob proteção. De acordo com a polícia, a menina sofria violência sexual desde os 6 anos.
O Presidente Lula comentou que como cristão e como católico lamentava profundamente o conservadorismo de um bispo da Igreja Católica (o pronunciamento do presidente foi antes do posicionamento público de membros do Vaticano a favor da excomunhão). E que nesse caso a medicina estaria mais correta que a Igreja.
Um comentário:
Não é possível que em 2009 coisas assim aconteçam na nossa cara. Como a igreja pode falar sobre o perdão, sob forte influência da opressão? Excelente texto, parabéns.
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