terça-feira, 23 de junho de 2009

A Metamorfose Ambulante de Raul Seixas (60 anos do rei do rock tupiniquim)

Gustavo Dourado
gustavodourado@yahoo.com.br
Poeta, escritor, cordelista, pesquisador, jornalista.

Raul Seixas deixou um vácuo gigantesco na música e na cultura moderna, especialmente no propalado e combalido rock brasileiro, que com a morte de Raul perdeu a sua vitalidade.. Raul era único, ímpar, sem igual, inimitável. Criador fantástico, rebelde, instigante, precioso, fenomenal. Um vulcão de idéias e ações inovadoras.

Roubou a cena da música pop com as performáticas “Gita” e “Ouro de Tolo”, entre tantas outras.Foi o primeiro a falar em ets e discos voadores. Quebrou os velhos tabus, rótulos, regras e paradigmas impostos pelo caótico e anacrônico “establishment” do capitalismo selvagem, desumano e cruel. Ah! Também pudera “Raul nascera a 10 mil anos atrás e não tinha nada nessa vida que ele não sabia demais e como sabia”. O homem era uma verdadeira zenciclopédia. Além de tudo mais é filho da Bahia de Todos os Santos, Terra dos Orixás, do Senhor do Bonfim e de São Jorge Amado dos Ilhéus.

Raul faz tanta falta para a música, assim como Glauber Rocha para o cinema. Raul empolgava, sacudia, remexia e incrementava sonhos desejos e idéias. Previu e cantou a “Sociedade Alternativa” preconizada por utopistas, beatniks, hippies e poetas.Criticou a mídia, a moda e a sociedade de consumo. Não perdoava a corrupção e as malandragens dos políticos, cada vez mais presentes em nosso cotidiano. Viva! Viva! Viva a Sociedade Alternativa, ecoava o saudoso vate do Apocalipse e da revelação do Novo Eon.

Raul era reflexivo e analítico. Preocupava–se com as causas da brasilidade, a Amazônia, a fome, a miséria, o Nordeste, o subdesenvolvimento e o entreguismo de nosso rico patrimônio pelas elites, aos poderosos predadores estrangeiros. Ele gritou em alto bom som para que todos ouvissem:

“A solução é alugar o Brasil.” Raul constatou o descaso que se tem com aquilo que é nosso. Doaram nossas riquezas por moedas podres. Privatizaram o nosso subsolo e leiloaram os nossos minérios a preço de banana. Entregaram o ouro ao bandido.

Desviam nosso dinheiro para contas secretas na Suiça e nos escondidos paraísos fiscais. Enquanto isso o povo passa fome e padece com a falta de saúde, emprego e educação, sem falar de outras necessidades básicas dos direitos humanos fundamentais.Tudo isso é imperdoável. Se estivesse vivo e não o censurassem, Raul poria a boca no trombone, no rádio, na tv, na Internete, no megafone e onde fosse possível falar.

Com certeza, ele não compactuaria com os desmandos da "república do mensalão", dos mensalinhos e de tantos pecados capitais que prejudicam o nosso País e ao nosso sofrido povo trabalhador e desprotegido, que tem de pagar as mais altas taxas de Imposto do mundo e pagar pelo que já pagou, como no caso da funesta aposentadoria. Nos venderam gato por lebre.

Raul era irônico, crítico, satírico, autêntico. Ele metia o dedo na ferida. Não via com bons olhos o comportamento duvidoso de alguns “papas” da mídia e dos meios de comunicação e principalmente a esperteza de alguns “artistas” da MPB. Questionava com rigor os jabaculês e a imprensa chapa branca, domada e dominada pelo “toma lá da cá” das grandes multigravadoras.

Raul Seixas fez história, marcou presença. Desarranjou a comportada orquestra oficial. Literalmente Raul “arrombou a festa”. Provocou uma tsunami e um terremoto no morno panorama cultural brasileiro dos anos 70 e 80. Raul Seixas transcendeu todos os ritmos. Está no mesmo nível de Elvis Presley, John Lennon e Bob Dylan . É um monstro sagrado da arte e da criação. Tinha em suas raízes a magia dos cantadores repentistas, dos poetas cordelistas e dos mais autênticos representantes da cultura pop. Misturou Luís Gonzaga e Jackson do Pandeiro com Beatles e Rolling Stones. Mesclou a quintessência do rock, com o repente, o rap, xote-xaxado-baião, num autêntico forrobodó eletrônico.

Raul profetizou a Nova Era, o novo tempo e reavivou o Apocalipse com a suas transcendentais revelações de mago e pensador revolucionário. Não é à toa, que Zé Ramalho, genial trovador do Nordeste Brasileiro, sempre foi um admirador do mestre Raulzito e um dos melhores intérpretes da poetimusical Raulseixista.

Raul é um dínamo, um íma, um vate que nos ilumina, com a sua verve cabalística, alquímica, transformadora e magistral. Raul é pura poesia. É uma megaláxia que transnavega pelas plagas inifineternas dos Multiversos. Evoé Raul Seixas...

Anexo: Entrevista para Nelson Motta.

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