João Batista de Brito
jbbb@openline.com.br
Critico de cinema
Nascido na pequena Winchester, no estado de Indiana, meio-oeste americano, Robert Wise começou sua carreira no cinema como montador da RKO. Dessa fase inicial há dois trabalhos seus dignos de nota, um positivamente, o outro, de forma negativa.
Foi ele quem fez a montagem brilhante do filme mais prestigiado do mundo, o Cidadão Kane (1941) de Orson Welles, mas, em compensação, também foi ele quem assinou os drásticos cortes que prejudicaram indelevelmente o filme seguinte de Welles, Soberba (1942), embora, claro, saiba-se que foi obrigado pelos estúdios a cometer tal crime, conforme ele mesmo conta em carta ao próprio Welles.
Como cineasta, começou dirigindo pequenos filmes de terror, mas, no dia em que lhe foi dada a chance de ousar, fez o que ainda hoje é considerado pela crítica internacional o melhor filme sobre Boxe já realizado, Punhos de campeão (The set up, 1949), adaptação de (pasmem!) um poema de Joseph Moncure March, com Robert Ryan (ator preferido de Wise) como esse pugilista maduro que literalmente perde os punhos numa luta decisiva.
Talvez sem o mesmo impacto, mais tarde Wise faria outro filme de boxe importante, Marcado pela sarjeta (Somebody up there likes me, 1956), sobre a vida e a carreira do verídico ídolo americano Rocky Graziano, um papel que, reservado para James Dean, terminou, em vista do acidente fatal com o ator naquele ano, ficando para Paul Newman.
Wise foi bom em vários gêneros, do western (Honra a um homem mau, com Jamas Cagney e Irene Papas) à estória de amor (Dois na gangorra, com Shirley MacLaine e Robert Mitchum), da ficção científica (o ainda hoje delicioso O dia em que a terra parou, com Michael Rennie e Patrícia Neal), ao relato biográfico, como o contundente Quero viver (I want to live, 1958), livremente baseado no caso da ré Bárbara Graham que, apesar de todos os indícios de inocência, seria condenada à cadeira elétrica, papel que deu um Oscar a até então nem tanto acreditada Susan Hayword.
No filme histórico é que não se saiu muito bem: é pelo menos o que atesta esse Helena de Tróia, de 1955, um épico cheio de clichês, com roteiro, cenário e atores pasteurizados, entre estes – engraçado – uma Brigitte Bardot ainda mignon, no papel secundário de uma escrava espartana.
Do grande público, Wise é mais lembrado por dois premiados super-musicais dos anos sessenta, Amor sublime amor (West Side Story, 1961, com Natalie Wood e Richard Beymer, e co-dirigido por Jerome Robbins), que refazia o mito de Romeu e Julieta nos arrabaldes de Nova York, e A noviça rebelde (The sound of music, 1965, com Julie Andrews e Christopher Plummer), a lenda romântica dessa freirinha austríaca que gostava mais de cantar que de rezar, e que vai ser preceptora numa família aristocrática e, bem, o resto da estória vocês com certeza sabem...
A partir da década de setenta Wise comercializou-se e decaiu vertiginosa e irrecuperavelmente, porém, quem julga a compleição de sua filmografia deveria levar em conta que ela faz parte de um contexto mais amplo e, de alguma forma, é só o reflexo do que, em termos gerais, aconteceu a Hollywood. De qualquer modo, para o bem ou para o mal, não sei qual dos dois, do final dessa década é de sua autoria a filmagem – primeiro episódio -- da série televisiva Jornada nas Estrelas (Star Trek, the motion picture, 1979).
De minha parte, o Wise que guardo no setor afetivo de minha memória, posso dizer o meu “xodó wiseano”, é um filmezinho quase B do final dos anos cinqüenta de que quase ninguém mais se recorda, chamado Odds against tomorrow (em português: Homens em fúria, 1959), um policial noir, denso, tenso, forte e meio pessimista, em que três cidadãos (o branco Robert Ryan, o idoso Ed Begley e o negro Harry Bellafonte) planejam o assalto a um banco e são atrapalhados pelo racismo. Sabe como é, cinema sem pretensão, mas do melhor: aquele tipo de filme pequeno cuja excelência depende justa e misteriosamente de sua pequenez. Se puderem, confiram.
Em tempo: lamentavelmente, poucos títulos de Robert Wise podem ser encontrados em nossas locadoras, segundo pesquisa que fiz, rápida e sujeita a correções, somente quatro: Amor sublime amor, A noviça rebelde, O dia em que a terra parou e Helena de Tróia.
jbbb@openline.com.br
Critico de cinema
Nascido na pequena Winchester, no estado de Indiana, meio-oeste americano, Robert Wise começou sua carreira no cinema como montador da RKO. Dessa fase inicial há dois trabalhos seus dignos de nota, um positivamente, o outro, de forma negativa.
Foi ele quem fez a montagem brilhante do filme mais prestigiado do mundo, o Cidadão Kane (1941) de Orson Welles, mas, em compensação, também foi ele quem assinou os drásticos cortes que prejudicaram indelevelmente o filme seguinte de Welles, Soberba (1942), embora, claro, saiba-se que foi obrigado pelos estúdios a cometer tal crime, conforme ele mesmo conta em carta ao próprio Welles.
Como cineasta, começou dirigindo pequenos filmes de terror, mas, no dia em que lhe foi dada a chance de ousar, fez o que ainda hoje é considerado pela crítica internacional o melhor filme sobre Boxe já realizado, Punhos de campeão (The set up, 1949), adaptação de (pasmem!) um poema de Joseph Moncure March, com Robert Ryan (ator preferido de Wise) como esse pugilista maduro que literalmente perde os punhos numa luta decisiva.
Talvez sem o mesmo impacto, mais tarde Wise faria outro filme de boxe importante, Marcado pela sarjeta (Somebody up there likes me, 1956), sobre a vida e a carreira do verídico ídolo americano Rocky Graziano, um papel que, reservado para James Dean, terminou, em vista do acidente fatal com o ator naquele ano, ficando para Paul Newman.
Wise foi bom em vários gêneros, do western (Honra a um homem mau, com Jamas Cagney e Irene Papas) à estória de amor (Dois na gangorra, com Shirley MacLaine e Robert Mitchum), da ficção científica (o ainda hoje delicioso O dia em que a terra parou, com Michael Rennie e Patrícia Neal), ao relato biográfico, como o contundente Quero viver (I want to live, 1958), livremente baseado no caso da ré Bárbara Graham que, apesar de todos os indícios de inocência, seria condenada à cadeira elétrica, papel que deu um Oscar a até então nem tanto acreditada Susan Hayword.
No filme histórico é que não se saiu muito bem: é pelo menos o que atesta esse Helena de Tróia, de 1955, um épico cheio de clichês, com roteiro, cenário e atores pasteurizados, entre estes – engraçado – uma Brigitte Bardot ainda mignon, no papel secundário de uma escrava espartana.
Do grande público, Wise é mais lembrado por dois premiados super-musicais dos anos sessenta, Amor sublime amor (West Side Story, 1961, com Natalie Wood e Richard Beymer, e co-dirigido por Jerome Robbins), que refazia o mito de Romeu e Julieta nos arrabaldes de Nova York, e A noviça rebelde (The sound of music, 1965, com Julie Andrews e Christopher Plummer), a lenda romântica dessa freirinha austríaca que gostava mais de cantar que de rezar, e que vai ser preceptora numa família aristocrática e, bem, o resto da estória vocês com certeza sabem...
A partir da década de setenta Wise comercializou-se e decaiu vertiginosa e irrecuperavelmente, porém, quem julga a compleição de sua filmografia deveria levar em conta que ela faz parte de um contexto mais amplo e, de alguma forma, é só o reflexo do que, em termos gerais, aconteceu a Hollywood. De qualquer modo, para o bem ou para o mal, não sei qual dos dois, do final dessa década é de sua autoria a filmagem – primeiro episódio -- da série televisiva Jornada nas Estrelas (Star Trek, the motion picture, 1979).
De minha parte, o Wise que guardo no setor afetivo de minha memória, posso dizer o meu “xodó wiseano”, é um filmezinho quase B do final dos anos cinqüenta de que quase ninguém mais se recorda, chamado Odds against tomorrow (em português: Homens em fúria, 1959), um policial noir, denso, tenso, forte e meio pessimista, em que três cidadãos (o branco Robert Ryan, o idoso Ed Begley e o negro Harry Bellafonte) planejam o assalto a um banco e são atrapalhados pelo racismo. Sabe como é, cinema sem pretensão, mas do melhor: aquele tipo de filme pequeno cuja excelência depende justa e misteriosamente de sua pequenez. Se puderem, confiram.
Em tempo: lamentavelmente, poucos títulos de Robert Wise podem ser encontrados em nossas locadoras, segundo pesquisa que fiz, rápida e sujeita a correções, somente quatro: Amor sublime amor, A noviça rebelde, O dia em que a terra parou e Helena de Tróia.
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