Daniel Lins
dlins2007@yahoo.com.br
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Sociólogo, filósofo e psicanalista, com doutorado em Sociologia - Université de Paris VII - Université Denis Diderot (1990) e pós-doutor em Filosofia pela Université de Paris VIII (2003)
Ontem punk, hoje hip-hop, techno e, mais recentemente, tecktonik. Estilo com influências do hip-hop e da techno, também conhecido como electro dança, milky way ou vertigo, tecktonik significa uma dança baseada em derivados de movimentos atípicos jumpstyle belga e adaptado ao ritmo da música hardstyle. Tecktonik, popularizado através de vídeos, especialmente durante a Techno Parade 2007, em Paris, se espalhou pelo mundo graças à internet.
Quem são esses jovens adolescentes, e não raro adultos, de cabelos extravagantes, com estilo extremamente gráfico pleno de sensualidade, aparência provocadora, que ocupam imenso espaço nos meios de comunicação europeus? A imprensa fala de um “fenômeno-tecktonik”, “sem ideologia” e “seleto”, mas com muito talento e espírito inovador. A tecktonik é uma dança que inflama as pistas de clubes famosos, apurados, de bom gosto e com forte tendência a espraiar sua originalidade.
Fenômeno pesquisado por universidades européias e americanas, cria o acontecimento e chama a atenção pelo aspecto novo e caráter excepcional, pois raramente uma expressão artística musical conheceu uma sedução, delicadeza e força tão rápidas. Os pesquisadores não escolhem a crítica fácil ou a postura moral de outros tempos, mas a compreensão, sem conselho nem palavra de ordem, desse fenômeno de sociedade em tempos de globalização acirrada. Será que o tecktonik, alheio às preocupações sociais, ocupa um lugar em nossa sociedade?
Belos, jovens, alegres, satisfeitos com a vida, sem problema material nem drama social, garotas, garotos sarados, ou adultos, festejam o triunfo de poder de se divertir sem culpa nem coração amargurado. Os ricos têm também o direito de inventar um ritmo e um estilo sem comum medida à criação musical de jovens pobres ou excluídos: punks desempregados, jovens do hip-hop, capoeiristas, ou lumpemproletariado das artes, às portas de prefeituras, solicitando apoio, pagando, muitas vezes, o preço de uma prática de assédio moral radical.
Suprema liberdade e prova de grande saúde: não concorrer aos editais; os tecktonik recusam à mendicância às portas de órgãos de financiamentos. Economicamente autônomos, e sem complexo, ocupam espaços privilegiados e não dão seus votos a nenhum político.
Do outro lado da cena há, porém, uma constelação de exemplos de culturas urbanas, ou “A cultura do pobre” (Hoggart), ora privadas de recursos, ora “selvagens”, e quase sempre minoritárias, com suas formas próprias de expressão artística, seus códigos indumentários e sua história. Ao invés de ignorá-los, ou pior ainda, estigmatizá-los, cabe apóia-los freqüentá-los, se deixar contaminar por toda uma riqueza de signos afetuosos e culturais que migram e emigram sem demandas nem lamentos, todavia, com a força criativa que é tão-somente o sentido do estilo movido pelo desejo do novo, da alegria mínima, em um espaço mínimo de tolerância e vontade de se deixar afetar pela diferença.
Trata-se, sobretudo, de diferenças e não simplesmente de conflitos sociais. A diferença é inovadora e busca se apropriar das representações calcinadas em identidades mórbidas, e supostamente controláveis, reinterpretando-as sob a força de algo que se pode chamar guerrilha para-semiótica e que se situa afora da ciência geral do signo, definição estratificada da semiótica.
Música, indumentária, gíria, rituais ou corte de cabelo, não conforme aos usos locais são elementos distintivos, blocos de sentido: corpo, sensualidade e erotismo, mas também espaço de expressão contra o controle social dos desejos e anseios artísticos. Sempre ameaçados de recuperação, ou de dose mercantil de libido, energia motriz dos instintos de vida e de toda a conduta ativa e criadora do homem, esses estilos emergem como instrumentos de confrontação e resistência às hegemonias dominantes.
Um exemplo: a juventude britânica dos anos 1970 misturou o punk e também o glam-rock, com a figura de David Bowie, e com o território de uma poderosa contracultura rastafári importada para Inglaterra pelos migrantes caribenhos. Mas, para perceber a emergência do punk cabe salientar a importância dos diálogos, através dos códigos do vestuário e estilos interpostos entre os jovens de origem britânica e os da imigração. As culturas minoritárias dialogam ou se interpõem num jogo complexo de trocas, deslocamento, errância e citações.
No Brasil, sobremodo, em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, fora e dentro das universidades, o debate sobre a contracultura jovem, como produção de estilo e modos de vida, fornece instrumentos conceituais para melhor se perceber os jogos complexos de significação e sentido, instrumentação e expressão, desconstrução de signos de uma juventude em situação pós-colonial.
Ontem punk, hoje hip-hop, techno e, mais recentemente, tecktonik. Estilo com influências do hip-hop e da techno, também conhecido como electro dança, milky way ou vertigo, tecktonik significa uma dança baseada em derivados de movimentos atípicos jumpstyle belga e adaptado ao ritmo da música hardstyle. Tecktonik, popularizado através de vídeos, especialmente durante a Techno Parade 2007, em Paris, se espalhou pelo mundo graças à internet.
Quem são esses jovens adolescentes, e não raro adultos, de cabelos extravagantes, com estilo extremamente gráfico pleno de sensualidade, aparência provocadora, que ocupam imenso espaço nos meios de comunicação europeus? A imprensa fala de um “fenômeno-tecktonik”, “sem ideologia” e “seleto”, mas com muito talento e espírito inovador. A tecktonik é uma dança que inflama as pistas de clubes famosos, apurados, de bom gosto e com forte tendência a espraiar sua originalidade.
Fenômeno pesquisado por universidades européias e americanas, cria o acontecimento e chama a atenção pelo aspecto novo e caráter excepcional, pois raramente uma expressão artística musical conheceu uma sedução, delicadeza e força tão rápidas. Os pesquisadores não escolhem a crítica fácil ou a postura moral de outros tempos, mas a compreensão, sem conselho nem palavra de ordem, desse fenômeno de sociedade em tempos de globalização acirrada. Será que o tecktonik, alheio às preocupações sociais, ocupa um lugar em nossa sociedade?
Belos, jovens, alegres, satisfeitos com a vida, sem problema material nem drama social, garotas, garotos sarados, ou adultos, festejam o triunfo de poder de se divertir sem culpa nem coração amargurado. Os ricos têm também o direito de inventar um ritmo e um estilo sem comum medida à criação musical de jovens pobres ou excluídos: punks desempregados, jovens do hip-hop, capoeiristas, ou lumpemproletariado das artes, às portas de prefeituras, solicitando apoio, pagando, muitas vezes, o preço de uma prática de assédio moral radical.
Suprema liberdade e prova de grande saúde: não concorrer aos editais; os tecktonik recusam à mendicância às portas de órgãos de financiamentos. Economicamente autônomos, e sem complexo, ocupam espaços privilegiados e não dão seus votos a nenhum político.
Do outro lado da cena há, porém, uma constelação de exemplos de culturas urbanas, ou “A cultura do pobre” (Hoggart), ora privadas de recursos, ora “selvagens”, e quase sempre minoritárias, com suas formas próprias de expressão artística, seus códigos indumentários e sua história. Ao invés de ignorá-los, ou pior ainda, estigmatizá-los, cabe apóia-los freqüentá-los, se deixar contaminar por toda uma riqueza de signos afetuosos e culturais que migram e emigram sem demandas nem lamentos, todavia, com a força criativa que é tão-somente o sentido do estilo movido pelo desejo do novo, da alegria mínima, em um espaço mínimo de tolerância e vontade de se deixar afetar pela diferença.
Trata-se, sobretudo, de diferenças e não simplesmente de conflitos sociais. A diferença é inovadora e busca se apropriar das representações calcinadas em identidades mórbidas, e supostamente controláveis, reinterpretando-as sob a força de algo que se pode chamar guerrilha para-semiótica e que se situa afora da ciência geral do signo, definição estratificada da semiótica.
Música, indumentária, gíria, rituais ou corte de cabelo, não conforme aos usos locais são elementos distintivos, blocos de sentido: corpo, sensualidade e erotismo, mas também espaço de expressão contra o controle social dos desejos e anseios artísticos. Sempre ameaçados de recuperação, ou de dose mercantil de libido, energia motriz dos instintos de vida e de toda a conduta ativa e criadora do homem, esses estilos emergem como instrumentos de confrontação e resistência às hegemonias dominantes.
Um exemplo: a juventude britânica dos anos 1970 misturou o punk e também o glam-rock, com a figura de David Bowie, e com o território de uma poderosa contracultura rastafári importada para Inglaterra pelos migrantes caribenhos. Mas, para perceber a emergência do punk cabe salientar a importância dos diálogos, através dos códigos do vestuário e estilos interpostos entre os jovens de origem britânica e os da imigração. As culturas minoritárias dialogam ou se interpõem num jogo complexo de trocas, deslocamento, errância e citações.
No Brasil, sobremodo, em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, fora e dentro das universidades, o debate sobre a contracultura jovem, como produção de estilo e modos de vida, fornece instrumentos conceituais para melhor se perceber os jogos complexos de significação e sentido, instrumentação e expressão, desconstrução de signos de uma juventude em situação pós-colonial.
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