sexta-feira, 24 de abril de 2009

Arnaldo Antúnel

Luis Estrela de Matos
Jornalista, ensaísta e escritor


No princípio eram as coisas. No meio também. E ao final do percurso, haverão de sê-las. E por quê? Porque nos antecedem, nos atravessam e serão o infinito depósito, necessário e inevitável, da experiência inútil da matéria. Que bom que seja assim. Arnaldo Antunes parece saber disso muito bem. Mas aí vieram os nomes. E as coisas ganharam nomes, não sem rebeldia, sem revolução. E o não familiar foi ganhando revestimento de familiar, de proximidade, de pertencimento... como se as coisas atendessem pelos nomes. Bem que tentamos. Aliás, estamos tentando desde o começo. Domesticar as coisas. O que realmente gosto em Arnaldo Antunes? Ele parece ter tentado devolver o não familiar, o estranho, o inóspito, ao próprio espaço da linguagem. Ou ainda melhor, nome e coisa numa aventura linguística (agora sem trema) sem igual. Aventura da poesia, aventura de um homem pré-babélico, quase uma infância da linguagem, como assegura Arnaldo relendo os lingüistas (agora com trema). Eis Antunes em seus vôos:

Por que o mar fica tão mar nessa escrita? Por que o lixo luxo lixo dos concretistas é tão material, abstratamente falando? Que onda é essa que invade nossos olhos ao lermos o poema e sentirmos o sal em sua mais pura materialidade? Não vejo música, juro que não consigo. Não vejo o letrista, vejo coisas se tocando. Vejo coisas nos falando, vejo coisas após a significância. As coisas devolvidas a elas mesmas. Quase um acerto de contas fenomenológico. Afinal, psicologizamos demais. Psicanalisamos em excesso. Antunes clama por um reinventar. É quase uma utopia, dirão os mais céticos. Que seja. A linguagem é a última de nossas utopias. Gosto que as coisas se revoltem.

É bom que as coisas não tenham paz. Afinal, a vida anda modorrenta demais. Ninguém aguenta mais a mesmice da vida, alcunhada, contemporânea. Arre!

Um comentário:

Carlos Alberto disse...

Sei que estou um tanto atrasado, mas em um programa que aconteceu na páscoa, um pedaço de um documentário foi exibido, acabei não anotando o nome do domumentário, será se você poderia passar o nome para mim?

E em um programa mais recente com os poetas Henrique Dídimo e Ayla Andrade, a poeta Ayla comentou sobre uma editora que está lançando poetas cearenses. Também não anotei, seria a Editora Corsário?