terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Educação, poder transformador nas sociedades modernas

Jesus Garcia Pascual
garciapascual2001@yahoo.com.br
Professor Adjunto da UFC
Doutor em Educação Brasileira

A primeira observação que faço se refere aos avanços atuais que as Políticas Públicas Educacionais significam na última década. Quem atua na educação brasileira sabe, contudo, que a frase “a educação é base do desenvolvimento social e econômico do País” − tão difundida nos meios de comunicação, nos palanques políticos − não utilizou toda sua força transformadora. Mas por que isso demora tanto? Escrevo aqui algumas ideais, peneiradas ao longo de mais de 34 anos trabalhando em todos os segmentos da Educação Brasileira:

1ª A pirâmide invertida. Pensem nas pirâmides egípcias se estivessem apoiadas sobre seus vértices e não sobre as bases! Quanto esforço para manter o equilíbrio, mas tudo bem! Seriam milhares de escravos a desfiar as leis físicas e se elas se impusessem qual o problema de tantas mortes! Pois é assim que interpreto a história da educação no Brasil, porque desde seus primórdios observo que a educação superior foi beneficiada pelos cofres públicos para atender à necessidade das elites se manterem no poder. Mas para um país crescer sustentavelmente precisa de pessoas ‘educadas’ desde sua infância porque nós não nascemos prontos para compreender o mundo que nos rodeia. Nesse sentido, tornam-se necessários projetos que potencializem escolas de educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio (infra-estruturar pedagógica muito boa, boa remuneração e reconhecimento social dos profissionais) para que as crianças instrumentalizem com linguagens naturais (saber interpretar muito bem o português e comunicar-se em outra língua); linguagens artificiais (lógica, matemática, informática); semântica (interpretar o símbolos de cultura brasileira e mundial); que saibam ler o planeta Terra (suas potencialidades e limitações); entender que a cooperação promove a sobrevivência de nossa espécie etc.

2ª Perda energética da educação no Brasil. A segunda lei da termodinâmica nos diz (de forma muito simplificada) que em cada troca de energia, perde-se alguma quantidade dela. Quanto mais trocas de energia educacional tivermos, menos energia chegará da fonte principal até seu destino final. Com isso quero dizer que há perda energética da educação no Brasil quando ela passa da legislação federal (fonte primária das ideias e dos recursos financeiros) pela legislação estadual (fonte secundária das ideias e dos recursos financeiros) e daí pela legislação municipal (fonte terciária das ideias e dos recursos financeiros). Sem destruir a transmissões da energia educacional estadual e municipal, penso que a base da pirâmide estará mais sólida e com menos perda energética se o Governo Central implementasse Centros Federais de Educação (CFE) em cada estado da Federação nos níveis da educação infantil, ensino fundamental, ensino médio nos moldes que usa para as universidade federais. E friso que deveremos chegar a valorizar ‘as tias’ e ‘professores desviados de sua graduação’ (formando competentes professores e profissionais altamente qualificados) no início da educação do mesmo modo que valorizamos obstetras e pediatras no início da vida!

3ª Repensar a valorização das profissões. Quanto tempo leva um cientista renomado ou um professor universitário para atingir esse grau de qualificação? Então, por que crianças e jovens gastariam tanto tempo e dedicação para obter essas profissões se há outras que lhe oferecem muito mais reconhecimento social (celebridades) e dinheiro (esporte)? Penso que devemos investir mais em centros educacionais para crianças e jovens onde aprendam a valorizar todas as profissões (socialmente reconhecidas e economicamente dignas) mediante a cooperação para uma sociedade mais equilibrada em todos os sentidos. Diminuirão certamente as ‘diferenças exorbitantes’ entre os cidadãos! Ora, se não posso obter a felicidade plena que apenas certas profissões podem me dar, para que estudar, para que trabalhar se há meios escusos que encurtam o caminho! Cabe, pois, refletirmos sobre quais são os parâmetros que nós adultos colocamos para avaliar o nível de nossa satisfação: ter dinheiro, ter poder, ter fama, ter coisas... ou ser modelos éticos para as gerações de crianças e de jovens? Por isso, o poder transformador da educação para fazer o Brasil alcançar tantas potencialidades passa pela educação porque possuir conhecimentos significa relacionar-se de modo mais avançado com a vida!

Um comentário:

Gustavo Henrique disse...

A paisagem educacional brasileira, como é bem ventilado, é defeituosa não só quanto à distância de investimentos entre o ensino básico e o superior, a qual, por sinal, é a fratura espinal de qualquer projeto educacional que vise à mudança desse cenário torpe, visto que, como foi dito pelo prof. Jesus Garcia, seria, infelizmente, mudo sacrifício de tantos (!) manter em equilíbrio uma pirâmide em cuja enorme base queda o produto de desigualdade social secular; é, entretanto, de semelhante importância atentar na dedução de um processo anterior à conformação corrente da educação brasileira. Historicamente, a formação da estrutura social brasileira tem modelado resignação comum dos indivíduos que permanecem intatos às políticas públicas, a qual, infelizmente, tem, atualmente, causa individual, ou seja, o que ocorre hoje é um cruel processo dedutivo: a construção de uma paisagem degradante incutiu nas mentes daqueles que se emudecem na base da pirâmide a imobilidade da escola diante da formação profissional; a distância supra que revela a disparidade de investimentos entre o ensino básico e o superior também se dá na abordagem da construção de um profissional, e isso torna ainda mais grave a corrupção do escopo da escola. Talvez o estado de emergência em que se encontram os jovens flagelos sociais seja o responsável pelo intento pedagógico da construção de cidadãos acima de tudo, sem deixar nítida, entretanto, a ponte que deveria ser construída entre o ensino básico e o superior. E, quando se elimina a opacidade dessa ligação, impera, infelizmente, o paradigma antigo das profissões, que, por sinal, foi muito bem tratado pelo professor no terceiro tema; mas, quanto a esse tópico, gostaria de ressaltar que a definição desse modelo viperino também é nutrida fortemente por fatores extrapedagógicos que se baseiam em ideais distorcidos pelo individualismo e pelo perecimento ideológico das boas premissas humanitárias, causados, principalmente, pelo alinhamento cego e irrefreável do ser humano ao sistema do capital. Infundir nos alunos, diariamente, esse prognóstico obscuro de felicidade, segundo os padrões supra de sucesso profissional, significa, para o discente, descreditar ainda mais o tão-só ventilado papel mobilizador da escola. É triste saber que a frase "a educação é base do desenvolvimento social e econômico do País", no Brasil, é encarada com uma série de limitações.